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November, 2014

Lançamento do livro “Calçadão, do Leme ao Leblon”

A convite da Editora Língua Geral, organizei um livro de fotografia sobre o Calçadão carioca. O projeto reúne quatro ensaios fotográficos autorais, meu e de mais três fotógrafos, que se misturam ao longo da narrativa visual assim como pessoas de todos os tipos se misturam no ambiente da praia no Rio de Janeiro. Lucas Zappa, Felipe Braga e Benoit Founier se unem a mim nessa missão de retratar o cotidiano desse local. O design ficou a cargo do Cubículo e o tratamento digital de imagens e produção gráfica com Joanna Americano Castilho.

O lançamento acontecerá no dia 04 de dezembro, às 19h00, no Hotel Ipanema Inn, nosso patrocinador! Rua Maria Quitéria, 27, Rio de Janeiro. 

O trabalho que apresento nesse livro pode ser visto no Portfolio.

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Segue abaixo o texto de apresentação do livro!

Calçadão do Leme ao Leblon: margeando subjetivamente a orla carioca

Carolina Matos, outubro de 2014.

“Há a praia entre o brasileiro e sua obra, entre o brasileiro e suas utopias”.[1]

Nelson Rodrigues

 

            Há um Calçadão entre o carioca e a sua essência. Uma das calçadas mais famosas do mundo, essa estreita faixa de pavimento preto e branco na orla da Zona Sul do Rio de Janeiro condensa ao mesmo tempo e no mesmo espaço elementos da praia e da cidade. As ondas reproduzidas no padrão gráfico – um ícone perfeito da natureza volúvel dos nascidos e criados na sua área, traçam um limite ambíguo entre dois universos, mas parecem também equilibrar de um jeito místico o choque entre natureza e concreto.

            Falamos de oito mil metros de extensão para o trajeto que margeia as praias do Leme, Copacabana, Arpoador, Ipanema e Leblon. Um dos pontos mais importantes do turismo no Rio de Janeiro, a Avenida Atlântica de Copacabana começou a ser construída em 1904, na gestão do prefeito Pereira Passos. Tinha então somente seis metros de largura, que aumentariam para o dobro apenas quatro anos depois e cada vez mais dali pra frente, dando vazão ao crescente movimento de automóveis, banhistas e curiosos na região. Feito de pedras portuguesas, o Calçadão carioca segue o padrão de “O Grande Mar”, na praça do Rossio em Lisboa, desenho original que representa o encontro das águas doces do Tejo com o Oceano Atlântico, e cujas ondas atravessaram toda a imensidão de água que nos separa, atracando de vez na orla brasileira.

            Esse espaço geográfico que tomamos como tema para a narrativa visual, tão urbano e tão nativo, é para o habitué a fronteira fundamental entre o ser e o estar. Porque à beira-mar, o carioca apenas é, sem legendas, etiquetas ou sobrenomes. E somente ao cruzar a avenida, seja ela Atlântica, Vieira Souto ou Delfim Moreira, o sujeito veste a roupa e também a alma, ilustrando sua personalidade com normas, direitos e deveres.

            “Das inúmeras cidades imagináveis, devem-se excluir aquelas em que os elementos se juntam sem um fio condutor, sem um código interno, uma perspectiva, um discurso”.[2] Seguindo esses preceitos, certamente o Rio entraria na seleção do viajante Marco Polo, ou melhor, no critério do escritor italiano Ítalo Calvino para sua viagem literária às Cidades Invisíveis. “As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa.” [3] Nesse Rio de Janeiro cheio de desejos e medos, arrisco dizer que o fio condutor pode ser o Calçadão, que as regras operantes nesse espaço são incoerentes porém legitimas, as perspectivas um tanto disfarçadas e que todos os pontos de vista escondem cenários diversos.

            O trânsito de pedestres é incessante e inclusive pode gerar dependência em alguns quantos fascinados com o vasto horizonte e o despontar da liberdade anunciada pela reunião entre céu e mar. A cidade, como o oceano, vive em constante mutação e talvez seja esse ritmo comum que faça com que possam encontrar algum equilíbrio. Vez ou outra o mar reivindica seu espaço, invadindo em ressaca as pistas de concreto impostas como limite. Mas em geral, o vai e vem fica mesmo por conta dos passantes, que cruzam olhares sem nunca ancorar em nenhuma direção.

            A proposta de reproduzir a atmosfera do Calçadão em uma publicação é de fato um desafio estimulante, e o convite para organizar a empreitada foi levado à mim considerando os múltiplos aspectos que permeiam o assunto. Manifestou-se necessária, como única alternativa para não reprisar o ponto de vista recorrente em publicações preliminares, a atribuição do encargo à fotógrafos jovens e descompromissados com a agenda do turismo e da propaganda, que tem uma profunda relação com a cidade e sua rotina agitada e farta de cenários e acontecimentos. Os cariocas Felipe Braga e Lucas Zappa junto com o olhar estrangeiro de Benoit Fournier são os responsáveis pelo enredo. Para mais, me propus a mesma tarefa de registrar o Calçadão: do Leme ao Leblon, em uma incursão virtual pela área. O produto final é um livro heterogêneo e sortido de retratos recém-produzidos da orla, uma narrativa extremamente contemporânea e ao mesmo tempo atemporal, que busca levar ao leitor a captação do espírito versátil desse eterno símbolo da cidade do Rio de Janeiro.

[1] RODRIGUES, Nelson. “O Brasil Karamazov”em “O Óbvio Ululante: primeiras confissões crônicas”, São Paulo: Companhia das Letras. 1993, pg. 143.

[2] e 2 CALVINO, Ítalo. “As Cidades Invisíveis”, traduzido por Diogo Mainardi, São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pg. 44.

Paris Photo e Mois de la Photo

No mês de novembro pude visitar Paris no melhor mês para qualquer fotógrafo: Mois de la Photo! É quando acontecem vários eventos e exposições de fotografia com conteúdo do mundo todo em um só lugar. Além da programação main stream com a enorme feira Paris Photo, que este ano aconteceu no Grand Palais, também havia exposições em museus e galerias de arte espalhados por toda a cidade.

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Entrada da Feira no Grand Palais.

Ainda tive a sorte de conseguir reunir no passeio meus dois printers, a brasileira Joanna Americano Castilho e o espanhol Juan Cruz Ibañez Gangutia!

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Joanna e Juan na Pont des Arts!

Pra que curte garimpar novidades como eu, havia também uma opção mais descontraída, o Mois de la Photo Off. Foi lá que eu pude satisfazer meu vício em fotografia oriental e voltei muito inspirada pela delicadeza, força e perfeição dos fotógrafos japoneses. Destaco a exposição “Japanese Eyes” na InBetween Gallery como uma grata surpresa no Marais. Masahito Agake (Tokio 1969), um arquiteto que fotografa cenas urbanas

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Masahito Agake – “Namekuji Soshi Gaiden”.

e Saori Ninomiya (Japão 1970), com a série “Requiem” que revela o grão analógico da fotografia p&b com muita técnica e emoção, foram meus preferidos.

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Saori Ninomiya – “Requiem”.

Outra fotógrafa japonesa que me surpreendeu foi a Yuriko Takagi, com exposição na Galerie Lazarew. “Sei” em japonês pode ser representado por uma quantidade enorme de caracteres, todos com significados que descrevem as fases da vida e até mesmo os contornos do universo. A fotógrafa selecionou 28 palavras que variam entre “honesto” e  “convidar” a “abundância”, “sexo” ou “morte” e fotografou flores em seus diferentes estágios de vida para representar o conceito proposto. Importante comentar que Takagi faz suas próprias ampliações e controla o processo fotográfico do começo ao fim.

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Yuriko Takagi – “Sei”.

Ainda no Marais, o Espace Topographie de l’art, um galpão super iluminado e espaçoso, reunia na exposição “Avers et revers sensible” nomes como Antoine D’Agata, Dieter Appelt, Roger Ballen, Blanca Casas Brullet, Patrick Tosani e Andrés Serrano, este último com a já conhecida série “The Morgue“, retratos cheios de textura feitos no necrotério.

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Já na Maison Européenne de la Photographie, pude conferir quatro exposições bem diferentes! A primeira, um trabalho documental da fotógrafa francesa Marie Dorigny. “Land Grab” ou no original “Main basse sur la terre”, que ganhou o Prix Photo AFD 2013. O trabalho trata de questões que envolvem a compra de terras agrícolas por parte dos investidores internacionais e seus efeitos nas populações locais. É o tipo de trabalho que eu acredito só ser possível com a convivência e extrema aproximação com os personagens. Nas palavras do diretor da casa, Alain Migam, Marie foge de qualquer dramatização estética, não fazendo um espetáculo da miséria humana, e faz com que tudo seja envolvido num ar de dignidade e busca pelo respeito no olhar daqueles que só tem olhos para chorar.

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Marie Dorigny – “Main Basse Sur la Terre”.

Havia também uma individual do espanhol Alberto García-Alix, de quem sou muito fã desde que morei na Espanha. “De Faux Horizons“, com curadoria de Nicolas Combarra, é quase autobiográfica e García-Alix desconstrói a realidade através da fotografia e do trânsito emocional de sua própria imaginação: paisagens urbanas, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos abstratos. Uma seleção das melhores imagens do seu trabalho mais recente.

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Alberto García-Alix – “Faux Horizons”.

Tim Parchikov (Moscow 1983) com seu “Suspense” estava muito bem ambientada, em uma sala com pouca luz e cópias em formato caixa de luz (backlight). Parecia um filme e entrar no clima do suspense não foi difícil com a edição favorecendo muito a experiência do espectador. São imagens de suas andanças ao redor do mundo, principalmente entre Europa e Ásia, tiradas à noite que tem como resultado uma atmosfera densa e misteriosa. O trabalho pode ser definido de maneira ambígua: como hiper-real ou pictórico, banal ou dramático, familiar ou estranho. O artista simplesmente acredita que todas as coisas estão escondendo algo que tem a capacidade de ser visto e experimentado de outra forma.

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Tim Parchikov – “Suspense”.

Pra fechar a MEP com algo bem dinâmico, desci para o subsolo que abrigava o Festival Open Videoart, com trabalhos do brasileiro Rogério Reis (“Ninguém é de ninguém“, também exibido no FotoRio 2014), e Chris Quanta, com seu “Coup de balai sur l’impressionisme“, que através das gotas de chuva na lente da câmera vai transformando uma fotografia em um quadro impressionista.

Na própria feira, minha grande descoberta foi o trabalho do japonês Naoya Hatakeyama, “River Series“, exposto pela galeria SAGE. A impressão da junção de duas fotos em uma era confundida ao se aproximar da imagem, uma série de 9 lambda prints com tamanho 54 x 28 cm.

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Naoya Hatakeyama – “River Series”.

Também houve toda uma programação dedicada aos livros de fotografia, que incluía o prêmio da Aperture Foundation dentro do Paris Photo e o circuito alternativo do Off Print Paris, com editoras e artistas que trouxeram edições independentes de todo o mundo! Mas isso é assunto pro próximo post…

Mesa Rara

Seguindo a linha da colagem, com a qual venho trabalhando desde o 2007, aceitei o convite da Raros e Banais para desenvolver um conjunto de jogos americanos de papel, no estilo dos restaurantes de comida rápida, para que você possa ter em casa esse mimo que além de prático é também um elemento a mais para encontros especiais em volta da mesa!

O primeiro modelo imita uma mesa posta para eventos formais, feita a partir da colagem de fotocopias de várias louças e talheres diferentes, dando a impressão de uma mesa festiva porém descontraída! O segundo é uma receita de Geleinha de Pinga da minha tia avó Regina, colhida diretamente do livro de receitas da família, combinada com motivos de rótulos de garrafas de pinga antigas. E o terceiro, uma toalhinha de renda, dessas da casa da vó que a gente herda e carrega pra sempre junto com a lembrança aquela mesa posta em dia de domingo. Você pode ver os modelos aqui no Portfolio!

Existem também a página do Facebook da marca Raros e Banais, e pra saber mais novidades é só seguir lá e no Instagram deles!

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