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MEMENTO VIVERE – Figuras Masculinas volta a Madri

MEMENTO VIVERE Casa de Citas

Na primeira ação da ARTEMANTICA como uma plataforma colaborativa de medidas para estimular o pensamento crítico e experiências artísticas e culturais, a série FIGURAS MASCULINAS volta a Madri para compor a exposição MEMENTO VIVERE, ao lado das artistas Luana Fischer e Sol Salama. O evento acontece na novíssima iniciativa de Beatriz Mercader, a CASA DE CITAS, e conta com trabalhos de colagem pautados por temas como o corpo, o gênero e a resiliência.

A abertura acontece no próximo sábado, 10/06, às 12h00, na Calle Rafael de Riego, 5 6ext Izq – 28045 Madrid. Para o fechamento, no dia 16/06, haverá um evento surpresa! Patrocínio Cervezas Ambar.

MEMENTO: (lat.) imperativo del futuro del verbo memini cuyo significado es “conservar en la memoria, acordarse, recordar, ser consciente de”. En su forma verbal, se traduciría por “acuérdate”. VIVERE: (lat.) infinitivo del verbo que significa, nada menos que “vivir”.

La naturaleza personal de la serie INVOKE, creada por la fotógrafa Luana Fischer en tiempos de profunda inmersión en cambios biográficos, es el producto de una invocación generada por la superación de momentos de tensión y tristeza. Vinculada a la fascinación por los elementos de la naturaleza, está en pauta el debate sobre los efectos de la exposición excesiva y desenfrenada del cuerpo femenino en la cultura visual contemporánea. Las composiciones reflejan una meditación acerca de la posición de la mujer en medio de la sociedad patriarcal. El proceso creativo de Luana consiste en registrar su cuerpo y el paisaje de Castilla y León, en el que se inmerge para trabajar sus cuestiones más personales, reorganizando los elementos a posteriori para retratar el universo más profundo de su realidad subjetiva.

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INVOKE – Luana Fischer

Carolina Matos utiliza el bordado, una técnica históricamente asociada a la mujer aprisionada en el universo domiciliar, para actuar como agente de cambio a través de una mirada culturalmente crítica. En la serie FIGURAS MASCULINAS, la feminidad de los personajes anónimos surge a través de los colores y formas del diseño cosido. Las fotografías provienen de un archivo comprado en una subasta, y al subvertir el simple consumo de imágenes asociado al régimen visual contemporáneo, la artista sugiere una representación que trasciende los estereotipos del género. Las metáforas visuales se construyen a partir de las formas geométricas, que surgen intuitivamente durante el proceso, y el resultado es la transformación de las fotografías originales en nuevas piezas. Su valor está compuesto tanto por la personalidad intrínseca a las figuras como por el adorno agregado.

FIGURAS MASCULINAS – Carolina Matos

Sol Salama, por primera vez en exposición, nos presenta una mirada poética, suave y delicada, producto inmediato de sus vivencias recientes. Las composiciones mezclan la anatomía con el paisaje, creando territorios emocionales cuyo protagonista es el vértigo ante el cambio. En la serie RESILIENCIA conviven la memoria, la añoranza de la niñez y un profundo impulso vital por combatir el miedo a la ausencia y al abandono. En sus piezas, están presentes la complejidad y la contradicción de una realidad que, cargada de ternura y belleza, en una fracción de segundo se vuelve atemorizadora. En los collages, hay una esperanza latente de que lo conmovedor y lo bello supere al miedo y venza sobre todas las cosas.

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“Figuras Masculinas” – entrevista para Rádio Nacional de España

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Está no ar a entrevista que eu dei para o programa Emissão em Português, comandado pela jornalista brasileira Estela Viana na Radio Nacional de España, sobre a série Figuras Masculinas, que fica exposta no Bahiana Club de Madri até a quinta-feira, dia 05/11. Foi uma delícia conversar com a Estela e contar um pouco mais sobre esse trabalho de bordar fotografias, além de falar um pouco sobre minha trajetória, tanto na Espanha quanto no Brasil!

O programa de rádio, com duração de 30 minutos, é um informativo diário e de diversas seções que tratam de assuntos de interesse mútuo tanto para a Espanha como para o Brasil. Realizado em português nos estúdios da Rádio Exterior da Espanha em Madri, o programa também oferece reportagens e entrevistas que abarcam todos os âmbitos da atualidade informativa.

O áudio da entrevista, em português, pode ser ouvido aqui:

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“Calçadão: do Leme ao Leblon” na Europa!

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O livro “Calçadão: do Leme ao Leblon” foi selecionado para participar da 6a Feira do Livro de Fotografia de Lisboa! Essa convocatória, que tem como intenção mostrar o que se faz hoje no domínio da edição dedicada à fotografia e revelar ao público português a qualidade e originalidade da produção vinda do Brasil, contará com outros trabalhos de grande qualidade, como o novíssimo “Ninguém é de ninguém” do fotógrafo Rogério Reis, editado pela Olhavê.

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Também desse lado do oceano, participei do encontro do Photobook Club Madrid, no qual pude apresentar tanto o Calçadão, como o Arpoador Homenagem para o público espanhol. Os livros foram posteriormente doados para a Biblioteca de Bellas Artes da Universidad Complutense de Madrid!

Estou muito feliz com a oportunidade de levar o nosso Calçadão para o outro lado o oceano e muito orgulhosa desse projeto e equipe maravilhosa. O trabalho da produtora gráfica Joanna Americano Castilho, responsável também pela área de digitalização da reserva técnica de fotografia do Instituto Moreira Salles, e também da equipe da Ipsis Gráfica e Editora, foram essenciais para manter o padrão de qualidade que possibilitou o reconhecimento internacional! E super obrigada para nosso patrocinador nesse projeto, o Hotel Arpoador Inn!

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Revista O Globo

Reportagem sobre a exposição #realvirtual #calçadão que é parte da mostra sobre os 450 anos do Rio de Janeiro organizada pelo Festival Foto Rio no Centro Cultural da Justiça Federal. A exposição fica em cartaz entre 12 de junho e 02 de agosto e a abertura é no dia 11, às 19h00.

O trabalho apresentado foi inicialmente concebido para o livro Calçadão: do Leme ao Leblon (Ed. Língua Geral), e ganha um novo recorte com a curadoria de Julieta Roitman. #realvirtual #calçadão é uma série fotográfica que pesquisa sobre o tempo e o espaço da imagem digital e procura explorar essa ambiguidade entre o real e o virtual, através dos efeitos colaterais da percepção visual em uma narrativa ótica. Sendo assim, ao capturar de maneira analógica em preto e branco imagens do cotidiano no Calçadão carioca, agora presentes apenas na materialidade da tela eletrônica (através do software online Google Street View), é questionada a objetividade da percepção do espectador a partir do ponto de vista onde o pixel vira grão, a tela intangível se transforma na concretude do papel e a fronteira entre real e virtual é borrada.

#real virtual #calçadão – fotografias de Carolina Matos

Curadoria – Julieta Roitman
Impressão – Thiago Barros
Tratamento de Imagens – Joanna Americano Castilho
Laboratorista – Ailton Silva
Montagem – João Sánchez
Molduras – Enquadre

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Revista O Globo, 31 de maio de 2015, p. 13.

 

Lançamento do livro “Calçadão, do Leme ao Leblon”

A convite da Editora Língua Geral, organizei um livro de fotografia sobre o Calçadão carioca. O projeto reúne quatro ensaios fotográficos autorais, meu e de mais três fotógrafos, que se misturam ao longo da narrativa visual assim como pessoas de todos os tipos se misturam no ambiente da praia no Rio de Janeiro. Lucas Zappa, Felipe Braga e Benoit Founier se unem a mim nessa missão de retratar o cotidiano desse local. O design ficou a cargo do Cubículo e o tratamento digital de imagens e produção gráfica com Joanna Americano Castilho.

O lançamento acontecerá no dia 04 de dezembro, às 19h00, no Hotel Ipanema Inn, nosso patrocinador! Rua Maria Quitéria, 27, Rio de Janeiro. 

O trabalho que apresento nesse livro pode ser visto no Portfolio.

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Segue abaixo o texto de apresentação do livro!

Calçadão do Leme ao Leblon: margeando subjetivamente a orla carioca

Carolina Matos, outubro de 2014.

“Há a praia entre o brasileiro e sua obra, entre o brasileiro e suas utopias”.[1]

Nelson Rodrigues

 

            Há um Calçadão entre o carioca e a sua essência. Uma das calçadas mais famosas do mundo, essa estreita faixa de pavimento preto e branco na orla da Zona Sul do Rio de Janeiro condensa ao mesmo tempo e no mesmo espaço elementos da praia e da cidade. As ondas reproduzidas no padrão gráfico – um ícone perfeito da natureza volúvel dos nascidos e criados na sua área, traçam um limite ambíguo entre dois universos, mas parecem também equilibrar de um jeito místico o choque entre natureza e concreto.

            Falamos de oito mil metros de extensão para o trajeto que margeia as praias do Leme, Copacabana, Arpoador, Ipanema e Leblon. Um dos pontos mais importantes do turismo no Rio de Janeiro, a Avenida Atlântica de Copacabana começou a ser construída em 1904, na gestão do prefeito Pereira Passos. Tinha então somente seis metros de largura, que aumentariam para o dobro apenas quatro anos depois e cada vez mais dali pra frente, dando vazão ao crescente movimento de automóveis, banhistas e curiosos na região. Feito de pedras portuguesas, o Calçadão carioca segue o padrão de “O Grande Mar”, na praça do Rossio em Lisboa, desenho original que representa o encontro das águas doces do Tejo com o Oceano Atlântico, e cujas ondas atravessaram toda a imensidão de água que nos separa, atracando de vez na orla brasileira.

            Esse espaço geográfico que tomamos como tema para a narrativa visual, tão urbano e tão nativo, é para o habitué a fronteira fundamental entre o ser e o estar. Porque à beira-mar, o carioca apenas é, sem legendas, etiquetas ou sobrenomes. E somente ao cruzar a avenida, seja ela Atlântica, Vieira Souto ou Delfim Moreira, o sujeito veste a roupa e também a alma, ilustrando sua personalidade com normas, direitos e deveres.

            “Das inúmeras cidades imagináveis, devem-se excluir aquelas em que os elementos se juntam sem um fio condutor, sem um código interno, uma perspectiva, um discurso”.[2] Seguindo esses preceitos, certamente o Rio entraria na seleção do viajante Marco Polo, ou melhor, no critério do escritor italiano Ítalo Calvino para sua viagem literária às Cidades Invisíveis. “As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa.” [3] Nesse Rio de Janeiro cheio de desejos e medos, arrisco dizer que o fio condutor pode ser o Calçadão, que as regras operantes nesse espaço são incoerentes porém legitimas, as perspectivas um tanto disfarçadas e que todos os pontos de vista escondem cenários diversos.

            O trânsito de pedestres é incessante e inclusive pode gerar dependência em alguns quantos fascinados com o vasto horizonte e o despontar da liberdade anunciada pela reunião entre céu e mar. A cidade, como o oceano, vive em constante mutação e talvez seja esse ritmo comum que faça com que possam encontrar algum equilíbrio. Vez ou outra o mar reivindica seu espaço, invadindo em ressaca as pistas de concreto impostas como limite. Mas em geral, o vai e vem fica mesmo por conta dos passantes, que cruzam olhares sem nunca ancorar em nenhuma direção.

            A proposta de reproduzir a atmosfera do Calçadão em uma publicação é de fato um desafio estimulante, e o convite para organizar a empreitada foi levado à mim considerando os múltiplos aspectos que permeiam o assunto. Manifestou-se necessária, como única alternativa para não reprisar o ponto de vista recorrente em publicações preliminares, a atribuição do encargo à fotógrafos jovens e descompromissados com a agenda do turismo e da propaganda, que tem uma profunda relação com a cidade e sua rotina agitada e farta de cenários e acontecimentos. Os cariocas Felipe Braga e Lucas Zappa junto com o olhar estrangeiro de Benoit Fournier são os responsáveis pelo enredo. Para mais, me propus a mesma tarefa de registrar o Calçadão: do Leme ao Leblon, em uma incursão virtual pela área. O produto final é um livro heterogêneo e sortido de retratos recém-produzidos da orla, uma narrativa extremamente contemporânea e ao mesmo tempo atemporal, que busca levar ao leitor a captação do espírito versátil desse eterno símbolo da cidade do Rio de Janeiro.

[1] RODRIGUES, Nelson. “O Brasil Karamazov”em “O Óbvio Ululante: primeiras confissões crônicas”, São Paulo: Companhia das Letras. 1993, pg. 143.

[2] e 2 CALVINO, Ítalo. “As Cidades Invisíveis”, traduzido por Diogo Mainardi, São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pg. 44.

Paris Photo e Mois de la Photo

No mês de novembro pude visitar Paris no melhor mês para qualquer fotógrafo: Mois de la Photo! É quando acontecem vários eventos e exposições de fotografia com conteúdo do mundo todo em um só lugar. Além da programação main stream com a enorme feira Paris Photo, que este ano aconteceu no Grand Palais, também havia exposições em museus e galerias de arte espalhados por toda a cidade.

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Entrada da Feira no Grand Palais.

Ainda tive a sorte de conseguir reunir no passeio meus dois printers, a brasileira Joanna Americano Castilho e o espanhol Juan Cruz Ibañez Gangutia!

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Joanna e Juan na Pont des Arts!

Pra que curte garimpar novidades como eu, havia também uma opção mais descontraída, o Mois de la Photo Off. Foi lá que eu pude satisfazer meu vício em fotografia oriental e voltei muito inspirada pela delicadeza, força e perfeição dos fotógrafos japoneses. Destaco a exposição “Japanese Eyes” na InBetween Gallery como uma grata surpresa no Marais. Masahito Agake (Tokio 1969), um arquiteto que fotografa cenas urbanas

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Masahito Agake – “Namekuji Soshi Gaiden”.

e Saori Ninomiya (Japão 1970), com a série “Requiem” que revela o grão analógico da fotografia p&b com muita técnica e emoção, foram meus preferidos.

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Saori Ninomiya – “Requiem”.

Outra fotógrafa japonesa que me surpreendeu foi a Yuriko Takagi, com exposição na Galerie Lazarew. “Sei” em japonês pode ser representado por uma quantidade enorme de caracteres, todos com significados que descrevem as fases da vida e até mesmo os contornos do universo. A fotógrafa selecionou 28 palavras que variam entre “honesto” e  “convidar” a “abundância”, “sexo” ou “morte” e fotografou flores em seus diferentes estágios de vida para representar o conceito proposto. Importante comentar que Takagi faz suas próprias ampliações e controla o processo fotográfico do começo ao fim.

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Yuriko Takagi – “Sei”.

Ainda no Marais, o Espace Topographie de l’art, um galpão super iluminado e espaçoso, reunia na exposição “Avers et revers sensible” nomes como Antoine D’Agata, Dieter Appelt, Roger Ballen, Blanca Casas Brullet, Patrick Tosani e Andrés Serrano, este último com a já conhecida série “The Morgue“, retratos cheios de textura feitos no necrotério.

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Já na Maison Européenne de la Photographie, pude conferir quatro exposições bem diferentes! A primeira, um trabalho documental da fotógrafa francesa Marie Dorigny. “Land Grab” ou no original “Main basse sur la terre”, que ganhou o Prix Photo AFD 2013. O trabalho trata de questões que envolvem a compra de terras agrícolas por parte dos investidores internacionais e seus efeitos nas populações locais. É o tipo de trabalho que eu acredito só ser possível com a convivência e extrema aproximação com os personagens. Nas palavras do diretor da casa, Alain Migam, Marie foge de qualquer dramatização estética, não fazendo um espetáculo da miséria humana, e faz com que tudo seja envolvido num ar de dignidade e busca pelo respeito no olhar daqueles que só tem olhos para chorar.

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Marie Dorigny – “Main Basse Sur la Terre”.

Havia também uma individual do espanhol Alberto García-Alix, de quem sou muito fã desde que morei na Espanha. “De Faux Horizons“, com curadoria de Nicolas Combarra, é quase autobiográfica e García-Alix desconstrói a realidade através da fotografia e do trânsito emocional de sua própria imaginação: paisagens urbanas, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos abstratos. Uma seleção das melhores imagens do seu trabalho mais recente.

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Alberto García-Alix – “Faux Horizons”.

Tim Parchikov (Moscow 1983) com seu “Suspense” estava muito bem ambientada, em uma sala com pouca luz e cópias em formato caixa de luz (backlight). Parecia um filme e entrar no clima do suspense não foi difícil com a edição favorecendo muito a experiência do espectador. São imagens de suas andanças ao redor do mundo, principalmente entre Europa e Ásia, tiradas à noite que tem como resultado uma atmosfera densa e misteriosa. O trabalho pode ser definido de maneira ambígua: como hiper-real ou pictórico, banal ou dramático, familiar ou estranho. O artista simplesmente acredita que todas as coisas estão escondendo algo que tem a capacidade de ser visto e experimentado de outra forma.

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Tim Parchikov – “Suspense”.

Pra fechar a MEP com algo bem dinâmico, desci para o subsolo que abrigava o Festival Open Videoart, com trabalhos do brasileiro Rogério Reis (“Ninguém é de ninguém“, também exibido no FotoRio 2014), e Chris Quanta, com seu “Coup de balai sur l’impressionisme“, que através das gotas de chuva na lente da câmera vai transformando uma fotografia em um quadro impressionista.

Na própria feira, minha grande descoberta foi o trabalho do japonês Naoya Hatakeyama, “River Series“, exposto pela galeria SAGE. A impressão da junção de duas fotos em uma era confundida ao se aproximar da imagem, uma série de 9 lambda prints com tamanho 54 x 28 cm.

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Naoya Hatakeyama – “River Series”.

Também houve toda uma programação dedicada aos livros de fotografia, que incluía o prêmio da Aperture Foundation dentro do Paris Photo e o circuito alternativo do Off Print Paris, com editoras e artistas que trouxeram edições independentes de todo o mundo! Mas isso é assunto pro próximo post…

Mesa Rara

Seguindo a linha da colagem, com a qual venho trabalhando desde o 2007, aceitei o convite da Raros e Banais para desenvolver um conjunto de jogos americanos de papel, no estilo dos restaurantes de comida rápida, para que você possa ter em casa esse mimo que além de prático é também um elemento a mais para encontros especiais em volta da mesa!

O primeiro modelo imita uma mesa posta para eventos formais, feita a partir da colagem de fotocopias de várias louças e talheres diferentes, dando a impressão de uma mesa festiva porém descontraída! O segundo é uma receita de Geleinha de Pinga da minha tia avó Regina, colhida diretamente do livro de receitas da família, combinada com motivos de rótulos de garrafas de pinga antigas. E o terceiro, uma toalhinha de renda, dessas da casa da vó que a gente herda e carrega pra sempre junto com a lembrança aquela mesa posta em dia de domingo. Você pode ver os modelos aqui no Portfolio!

Existem também a página do Facebook da marca Raros e Banais, e pra saber mais novidades é só seguir lá e no Instagram deles!

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If I’m involved, I want it to be right.

Todos os dias aprendo muito sobre o meu trabalho apenas observando pessoas que admiro profundamente. Na era da Internet, vivemos a possibilidade de acessar virtualmente acontecimentos de lugares e tempos muito diferentes do nosso. Nesse contexto, hoje acordei com o distante porém próximo Ai Weiwei, o artista chinês multi-talento que me mantém atualizada diariamente sobre sua vida e seu trabalho através das redes sociais online. Quem tem tempo pra escrever uma autobiografia quando pode usar o Twitter para informar sobre injustiças e desigualdades sociais na hora em que elas acontecem? E assim ele vai contando e fazendo história ao mesmo tempo, em tempo real.

No último mês de abril, o nome e as obras de Ai Weiwei que constavam em uma exposição na Power Station of Art de Xangai, um museu estatal, foram removidos da mostra antes da inauguração, por pressão de autoridades do governo local. “15 Years Chinese Contemporary Art Award” tinha como argumento a trajetória do Prêmio criado pelo colecionador suíço Uli Sigg em 1998. Ele próprio, entendendo a complexidade da situação, pensou em cancelar a exposição em cima da hora, mas estando a apenas alguns minutos da abertura e sem qualquer possiblidade de diálogo com os funcionários da Secretaria Municipal de Cultura de Xangai, optou por registrar suas reclamações em seu discurso de abertura. Sua menção ao artista que não pode ser incluído não foi traduzida.

Apenas um mês depois, surge um novo episódio de censura. Trata-se agora da exposição “Hans van Dijk: 5000 Names”, no UCCA Ullens Center for Contemporary Art”, uma homenagem ao curador nascido na Holanda, que viveu e trabalhou em Pequim promovendo a arte contemporânea chinesa em todo o mundo. O nome de Ai Weiwei, que diga-se de passagem era grande amigo e colaborador do homenageado em questão, foi omitido do release para a imprensa e de toda a divulgação da mostra. Honrando sua luta contra a censura e também a amizade com Dai Han Zhi (nome chinês de Hans van Dijk), o artista em pessoa retirou e levou embora seu trabalho da exposição, alegando desrespeito a sua trajetória e a promoção de um falso retrato da arte contemporânea chinesa. E claro, tirou uma foto e postou no Instagram.

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Ai Weiwei foi além. Para que não restassem dúvidas sobre a arbitrariedade da curadoria, resolveu gravar as conversas que teve dois dias após o ocorrido com o diretor do UCCA, Philip Tinari, na cafeteria do local. Também registrou a conversa com a curadora convidada e responsável pela mostra, Marianne Brouwer. Nesta madrugada ele postou as transcrições, que podem ser lidas tanto na sua conta do Google (aqui e aqui) quanto no Instagram.

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Com isso, ele demonstra que o sistema invade determinadas práticas profissionais como um cavalo de Tróia, delegando o poder e depois fazendo com que a censura seja absorvida como uma banalidade, uma burocracia, transformando-se em autocensura. Ambos profissionais decidiram omitir o nome do artista na divulgação, mantendo suas obras na exposição, com o objetivo de evitar problemas com as autoridades. Com isso, ignoram na totalidade o pensamento e o trabalho artístico de Ai Weiwei, que luta incessante e destemidamente contra esse controle e mais, combate esse tipo de medo com a coragem que é evidente em sua trajetória pessoal e profissional. Estava sendo nada mais que coerente.

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“Se eu estou envolvido, eu quero que seja certo”. Através dessa afirmação tão simples e com a qual muito me identifico, no dia de hoje ele chamou a atenção de milhares de seguidores para o que está acontecendo na China. O que poderia denotar apenas ética e princípio moral aplicado ao espaço profissional, quando dito por Ai Weiwei toma outra dimensão: fala sobre as dificuldades de ser e estar na China do século XXI e ensina sobre moldar a nossa existência através dos próprios atos.

Weiwei é para mim um exemplo a ser seguido, uma fonte infindável de inspiração para curadores e artistas. Minha admiração é tanta que confesso, sem nenhuma vergonha, que há mais de um ano comecei a aprender Mandarim com o objetivo de entendê-lo melhor e, quem sabe um dia, poder falar com ele se o encontrar por acaso na rua, nem que para isso eu tenha que dar uma volta, também muito por acaso, perto da sua casa/estúdio em Pequim. (Pra quem não conhece sua trajetória, ele ficou quase três meses detido pelas autoridades chinesas em 2011, sob acusação de evasão fiscal. Embora esteja autorizado a deixar Pequim, ainda está proibido pela polícia de viajar para outros países, por ser “suspeito de outros crimes”. Seus defensores e ele próprio consideram sua prisão como uma represália por suas críticas ao governo. Mais sobre ele no maravilhoso documentário “Never Sorry” e também no recente “The Fake Case“).

O seu trabalho me encoraja a ter mais imaginação e com ele aprendo que a política é mais próxima das pessoas quando questionada através da arte. Ele me faz pensar que toda arte tem que ter um porquê, e me traz a noção de que o belo se justifica quando é veículo para transmissão de uma mensagem e não apenas um fim em si mesmo. Passei a pensar melhor minhas escolhas estéticas e, como uma ode à Ai Weiwei, aspiro acessar meus espectadores na essência do ato de observar, atingindo o ponto exato onde se perguntam o porquê do meu trabalho. Por que essa foto e não outra? Por que aquela cor? Por que aquele traço está ali? Qual o por que dessa edição? Produzir apenas para dar vazão a minha angústia criativa deixou de ser aceitável depois de Ai Weiwei. Ele me ensinou que, sem nenhum juízo de valores, em um mundo onde tudo é possível e tem seu lugar, existe a Arte e existe o artesanato. Sendo assim, me pergunto todos os dias por que estou fazendo o que faço, busco alguma certeza entre minhas inúmeras dúvidas. Mas sempre com uma convicção: If I’m involved, I want it to be right.

 

 

Agulha e Linha

Minhas duas amadas avós eram costureiras: uma de profissão e outra por puro talento. Cresci em meio à agulhas e linhas, tesouras e tecidos. Passei inúmeras férias introduzindo linhas em buracos de agulha minúsculos, pregando botões, alinhavando panos de prato e lencinhos como treinamento e remendando meias como dever de casa. Chuleado, caseado, invisível, zigue-zague. Adotei o dedal como objeto preferido, achava que era feito para crianças. Minha mãe tecia tapetes e colchas incríveis, qualquer folguinha na rotina e ela corria pras agulhas de crochê. Meus tios foram donos de fábricas de roupas e eu simplesmente adorava passear pelo meio das costureiras catando restinhos de tecido pra fazer roupinhas de boneca. Essa convivência despertou em mim uma vontade de criar que nunca foi embora, me deu asas pra voar no mundo da imaginação.

A costura me parecia um mundo de possibilidades, que na infância julgava servir apenas para uma finalidade muito prática: roupas! Quando cresci, pude entender que se tratava mesmo de um universo, mas que ia muito além das roupas: a criatividade, ela sim, é a peça chave da engrenagem das costureiras. Depois, se transformou em terapia, e nos momentos difíceis sempre me pego bordando algum paninho. Ao me lembrar daquelas tardes que passava sentada ao pé da máquina da vó Anna, ou no quarto da vó Cacilda, costurando, ouvindo algumas histórias, contando outras, me sinto mais segura. Foram naqueles momentos quando descobri muito sobre a minha família e com isso pude traçar as primeiras linhas da minha identidade.

Já crescida, agora fotógrafa e historiadora da arte, resgato aquelas tardes no meu coração unindo o passado e o presente. Costurar papéis e fotografias gera em mim não apenas um sentimento de continuidade de uma tradição, mas me faz sentir mais completa e satisfeita como artista. Sem maiores explicações teóricas, simplesmente faz sentido. Sinto muita empatia pelas figuras costuradas, mesmo que desconhecidas, como se houvesse uma capacidade de compreensão emocional e estética mútuas entre os fotografados e eu durante o processo. Costurar é um ato emocional e algo me diz que um tanto místico também.

#realvirtual

Começa hoje o projeto #realvirtual. Através do aplicativo Google Street Viewa cada dia vou poder viajar pra algum lugar diferente do planeta. Com direito a álbum de viagem, vou finalmente realizar meu sonho da vida inteira e dar a volta ao mundo!

Ontem enviei uma inscrição pra uma convocatória e percebi na volta do correio, quando pude parar e sentir francamente minha visão sobre o que elaborei pra proposta, que essa tela de 27” que quase me engole todos os dias pode ser também janela pro mundo, minha saída pra realizar tal sonho. Engraçado que essa descoberta me encheu de felicidade, mesmo que felicidade falsa e virtual, foi honesta… então resolvi registrar os passeios no meu Instagram!

Não sei porquê comecei pela Paraíba. Queria saber como de fato se vive por lá, exercitar o meu olhar curioso pelas ruas de João Pessoa. Acabei na Rua Francisco Lustosa Cabral, 223, Cristo Redentor João Pessoa – PB, CEP: 58070-290.

A sensação de fugacidade que essa visita me provoca não adormece simplesmente fechando a tela. Tirei uma foto com meu celular na tentativa de registrar minha presença real ali, mas ela é de fato apenas transitória e virtual. Minha prova concreta não exclui o fato de que eu estou ali apenas potencialmente. Mesmo assim fico satisfeita. Continuo sentada aqui na mesma cadeira, mas pude fugir por alguns minutos.