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Bazar na Rampa!

No PRÓXIMO DOMINGO, 1º de setembro, estarei participando de um evento super animado da Rampa, Lugar de Criação, em Copacabana! Levarei colagens, cartazes e muitos caprichos da caixadacarol.com. Haverá um BAZAR com exposição e venda de vários artistas, além de oficinas gratuitas de yoga, dança, kinomichi, oficina de jardinagem e shows à partir das 18h, além de um bar totalmente orgânico! Mais informações no site: www.rampa.art.br

Olhar Obtuso

Olhar obtuso

* texto publicado na Revista La Cabeza, número 8, Madrid: Maio de 2011

Vivemos em meio a um tsunami de imagens, um universo em expansão constante e incontrolada. Os novos dispositivos de captura, em especial as câmeras digitais, geram uma abundante e excessiva oferta. Há apenas duas décadas, não se poderia imaginar as possibilidades fotográficas disponíveis agora para o usuário. A rápida evolução do meio digital propõe uma nova forma de construir mensagens visuais, o que pode haver mudado radicalmente a forma de entendê-los.

A fotografia nasceu como consequência de uma cultura visual a que também ajudou a fortalecer e impor e nunca foi tão acessível nem onipresente. Está composta pela combinação entre seu desenvolvimento tecnológico e seu uso, e se define pelo equilíbrio dessa relação. O processo ocorre no tempo e está em constante revisão. Depois da euforia do último quarto do século XX, era da intensificação do vício pela imagem fotográfica, é hora de averiguar se, além das mudanças tecnológicas no produto que se segue chamando fotográfico, sua função social também mudou.

A velocidade e a globalidade da produção e propagação de imagens digitais motivam discussões sobre uma possível morte da fotografia, ou pelo menos do seu conceito standard construído no último século. Mas é possível que, apesar da indiscutível liberação do direito à imagem, a cultura digital tenha gerado também mudanças de conduta social e ordem psicológica no que diz respeito à percepção visual do homem contemporâneo.

Em retrospectiva, a explosão da oferta remonta aos inícios da era metropolitana, quando houve um incremento nos diferentes procedimentos de criação e vias de transmissão do universo visual. A fotografia surgiu quando a manufatura cedia lugar paulatinamente à empresa industrial e, naqueles dias, o surgimento de diferentes classes sociais, até então inexistentes, provocou a necessidade de produzir tudo em grandes quantidades. O dispositivo fotográfico oportunamente se ajustava à demanda.

Historicamente, a cristalização repentina de uma nova tecnologia é causa do antagonismo entre a crença no progresso e uma certa suspeita e receio. Com o surgimento da fotografia não foi diferente. Por um lado, equivalia à prova inegável de um fato, o suporte de uma evidência. Por outro, levantava dúvidas quanto à sua relação com o real. “Menos que nunca a simples reprodução da realidade consegue dizer algo sobre a realidade”. Se fosse vivo, Bertold Brecht se daria conta da atualidade do seu veredicto.

A tecnologia digital elimina de alguma maneira a capacidade de uma fotografia em gerar representações exatas e verídicas da realidade. Hoje em dia, não só os especialistas, mas também o público em geral descobriu a inevitável manipulação que opera no processo de toda imagem fotográfica. O uso de softwares de tratamento de imagens, como o Adobe Photoshop, com sua enorme facilidade de utilização, substitui a técnica do aerógrafo e da fotomontagem e sua assimilação entre o público inexperiente acaba com o mito da objetividade fotográfica. Mais que nunca a percepção da realidade depende do instrumento que se utilize para percebê-la e em meio a dados numéricos intangíveis o conceito de inocência da câmera pode ter mudado radicalmente sua essência. A verdade se converteu em uma analogia e cada vez mais os fotógrafos apresentam diferentes versões de realidade.

Ao comparar a era atual com a época da invenção da fotografia, quando as imagens eram limitadas em número, circunscritas em um significado e contempladas com atenção, podemos concluir que hoje em dia, mais que contemplar, consumimos. Estamos inundados de imagens, o que supõe uma maior consciência informativa da realidade global, mas também pode gerar impressões visuais carentes de significado. Entre a velocidade da Internet, os telefones celulares e os dispositivos eletrônicos portáteis, a análise da realidade objetiva sofre o caos da excessiva oferta de imagens. O teórico francês Paul Virilio fala da mecanização da percepção. O computador assiste a percepção e a Internet gera a vontade de ver tudo, saber tudo, a cada momento, em cada lugar. Mas o raciocinar sobre o que é visto já é outra história.

            Entretanto, ver tudo é também uma grande exigência do mundo atual, mas frente ao abuso visual e ao volume de transmissão, o cérebro pode ter sido privado de uma de suas atividades mais lúdicas: a imaginação. Italo Calvino, em suas Seis propostas para o próximo milênio, fala sobre a projeção interna de imagens como parte do processo de interpretação e expressão. Estas imagens pessoais são apoiadas em reflexos interiores da tradição oral. Formam campos de analogias que, ao serem organizados, geram um sentido crítico na consciência. A força dos meios digitais está em conflito com uma capacidade humana conhecida desde o eidos de Platão: o pensar com imagens, o que não pode ser visto com os olhos, o que conhecemos porque temos a ideia em nossa mente, não pela realidade do objeto.

Paradoxalmente, hoje em dia um suporte físico já não é imprescindível para que a imagem exista. Mas longe da imaginação, as exigências do mundo atual são satisfeitas pela imagem eletrônica com a imediatez do trânsito de informações e a globalidade, onde distâncias geográficas colapsam em tempo real pela world wide web.

Em contraste ao discurso linear obtido pela fotografia analógica, o discurso democrático da imagem digital na Internet é constituído por uma infinidade de caminhos possíveis, através de links que levam a distantes e desconhecidos destinos. Uma versão eletrônica da Biblioteca de Babel, de Jorge Luis Borges: todos os livros possíveis, ordenados de forma arbitrária, mas sem ordem pré-determinada de pesquisa. Nesse ambiente, se consideram fotografias as imagens geradas através de todos os tipos de câmeras, satélites e mísseis, câmeras de vigilância e webcams, scanners e telefones celulares. O computador padroniza a especificidade de cada meio, gerando uma crise na função de registro.

Como acontece frequentemente nos meios de comunicação visual, a crise é um sintoma de renovação. Eu sou uma vítima da luta entre a adesão à tecnologia e a convenção analógica. Talvez por medo de perder a capacidade de imaginar visões ainda encontradas no Google, ou por medo de sucumbir à velocidade vertiginosa do fotografar-ver-apagar. A imagem digital gera o completo controle do resultado, ao contrário da imagem analógica, imprevista e intuitiva, que tanto me emociona. Mas também sou ciente de que as representações da identidade contemporânea estão intrinsecamente ligadas às novas tecnologias da imagem. A quantidade de oferta que se consome diariamente pode permitir que a fotografia realize funções sem precedentes e ainda pouco conhecidas.

A principal mudança na percepção visual é, sem dúvida, a facilidade de um diálogo aberto em que o espectador participa e divide a dinâmica criativa. Resta uma análise dos efeitos reais e imediatos na assimilação do atual fluxo de informação visual. O sujeito contemporâneo é um passageiro metropolitano e a velocidade com que passa pelo mundo determina não só o olhar, mas também como as coisas se apresentam frente a ele. Nossa identidade é construída pela indústria da cultura digital, que entrega o olhar como produto final e não como o início de uma interpretação. Para virar o jogo, devemos exercer o olhar do estrangeiro, que recém chegado a um lugar resgata o sentido primeiro das coisas, começando do zero.

Merci au Cirque

Quarta, 23 de fevereiro de 2011 às 13h18

Esta semana descobri a indigna cadeia de apegos na qual se perde nossa vida. Trocamos o essencial pelo suscetível, estamos convencidos de que a felicidade está no mundo exterior. Havia me esquecido do prazer de viajar leve.

Para alçar vôo precisei soltar o peso, tantas coisas desnecessárias que acumulo, a preocupação com a bagagem, as armadilhas mais complexas do mundo material. Comecei a soltar, deixei cair, quebrei paradigmas e crenças internas que me faziam acreditar que para ser feliz há de haver apego, não liberdade.

Encontrei nas pessoas o espírito de solidariedade, nos que seguem seus sonhos e vivem de forma espontânea no aqui e agora. O peregrino sabe decifrar o seu caminho, sonha com seu rumo e não negocia a sua liberdade, não trafica o sagrado, recupera a paisagem interna rompendo a ilusão do apego, desafiando a sua liberdade, desapego e autenticidade.

La Virgule, uma indicação de inversão interna, uma pausa pra respirar em Toulouse… Merci au cirque por me ensinar que a felicidade está aqui.

 

 

 

Alvorada Virtual

Não, essa não é minha primeira vez…  Comecei no mundo da Internet com um Fotolog! em novembro de 2006, do qual não lembrava nem a senha até ter que desenterrar esse arquivo de imagens que agora está mais pra lixo eletrônico. Ou seria um álbum (virtual) de fotos, igual aqueles que guardamos nas gavetas do passado? A virtualização da nossa memória através da Internet gera essa confusão nas relações diretas da vida de todo dia, nos nossos hábitos mais enraizados. Acabam-se as fronteiras visíveis, a velocidade de transmissão toma conta do conceito de espaço e reduz o mundo a proporções ínfimas. De repente, estamos morando no Google, não conseguimos viver fora dele! E foi através do Google que fui morar na Espanha em 2007, quando decidi que apenas uma foto por dia no Fotolog era pouco pra satisfazer minhas crises de expatriada. Resolvi ter também um Flickr! Com o tempo virei Pro, desvirei e virei outra vez… Passei do finado Orkut pro Facebook, que dominou meu tempo livre e anunciou publicamente minha mudança de país, de estado civil e as constantes mudanças de humor. Me enrolei demais nas palavras e meu mural começou a ficar bem visual, menos texto e mais imagem. Em 2012, meu mundo virtual ganhou mais um reforço: fiz uma conta do Instagram!

Corta pra 2013: já era hora de ter um site, e assim surgiu o caixadacarol.com. A caixa começou a ficar muito cheia e evoluiu pra uma plataforma, o arte mântica. Mântica vem do grego: manteia, arte do vidente; –mancia. Também remete a alforje, aquela bolsa que carregamos no cavalo para viajar. E isso tudo representa a nova proposta, onde a intuição aliada ao conhecimento é muito valorizada na produção do conteúdo e com ele desejo atingir lugares ainda não explorados, ultrapassar fronteiras! Benvindos ao meu novo lar virtual!