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Portfolio

Mesa Rara

Seguindo a linha da colagem, com a qual venho trabalhando desde o 2007, aceitei o convite da Raros e Banais para desenvolver um conjunto de jogos americanos de papel, no estilo dos restaurantes de comida rápida, para que você possa ter em casa esse mimo que além de prático é também um elemento a mais para encontros especiais em volta da mesa!

O primeiro modelo imita uma mesa posta para eventos formais, feita a partir da colagem de fotocopias de várias louças e talheres diferentes, dando a impressão de uma mesa festiva porém descontraída! O segundo é uma receita de Geleinha de Pinga da minha tia avó Regina, colhida diretamente do livro de receitas da família, combinada com motivos de rótulos de garrafas de pinga antigas. E o terceiro, uma toalhinha de renda, dessas da casa da vó que a gente herda e carrega pra sempre junto com a lembrança aquela mesa posta em dia de domingo. Você pode ver os modelos aqui no Portfolio!

Existem também a página do Facebook da marca Raros e Banais, e pra saber mais novidades é só seguir lá e no Instagram deles!

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Clarita Mascarada

Na Páscoa de 2010, fiz uma viagem a Portugal com o objetivo de encontrar o amor no “meio do caminho” entre a Espanha e o Brasil. Encontrei amor e mais, encontrei Clarita.

Durante uma caminhada sem pressa, dessas que a gente só faz em viagens, cruzei com ela pela primeira vez em uma feira de antiguidades de Vila Nova de Gaia. Quem me conhece sabe o quanto eu fico entusiasmada com possibilidade de levar pra casa fotos de familias que não são a minha. Honrando o padrão de maluquice dos Colecionadores de Retratos Anônimos, comecei a procurar rostos conhecidos em uma caixa de fotos cheia de imagens de um passado que não era meu. E lá estava ela…

Quando encontrei a primeira foto, já não pude mais deixar de olhar praquela moça, ingênua porém atenta, muito bem vestida, muito bem penteada. Parecia estar de férias, mas nem um fio de cabelo fora do lugar. Sorriso de Monalisa, com covinhas discretas, toda uma diva. De repente, outra foto! E era a mesma pessoa! Surgiram várias imagens, de diferentes lugares e épocas. Mas sempre o mesmo olhar, um  encanto natural. Resolvi perguntar pro dono da banca: quem é essa senhora? Como ela veio parar aqui, nessa caixa? Ora pois, o que segue é história:

Resulta que Clarita era conhecida do pessoal, como sempre acontece nas cidades pequenas. Foi casada com Carlitos durante toda sua vida e se amavam serena e profundamente. Tiveram filhos, netos, uma casa no campo. Até que um dia Clarita adoeceu e para o inconsolável pesar de Carlos, não voltou do hospital. Ele decidiu que também não voltaria, não colocaria os pés novamente naquela casa que era deles, que era ela. Tudo ficou onde estava. Nas palavras do amigo antiquário: “o açúcar ficou lá aberto em cima da mesa, como deixou quando saiu para visitá-la aquela manhã”. Desde aquele dia, ele passou a viver na casa de campo, de onde saiu apenas para cumprir seu fado. 

Mas como as fotos chegaram àquela caixa? Prefiro não julgar, meu próprio relacionamento com as imagens é um caso terapêutico. A casa ficou fechada até que um dia tudo que estava dentro, assim como seus donos, teve o seu destino. E Clarita veio pra mim, é isso que importa. 

As fotos eram sempre dedicadas, com muito apreço, muita doçura. “A meu grande amor e querido Carlitos da sua sempre apaixonada Clarita”, “Em todos os meus passeios eu penso em ti meu bem amado. Tua fiel, Clarita”, “Clarita que o amará sempre”. Na despedida, o senhor me cobrou pelas fotos muito menos do que eu julgava que elas valiam. Parecia que o fato de agora dividirmos aquela história e que eu a levasse pra viajar por novos horizontes lhe deixou secretamente satisfeito. Como um atestado não verbal de que tudo aquilo era verdade, me fisgou quase partindo com uma última surpresa: “Leve também este cartão de visita dos dois, não vou lhe cobrar, este eu lhe ofereço”. Era o que faltava, eu agora tinha o endereço… mas isso já é outra história. 

Clarita vai bem, obrigada. Depois de alguns invernos madrilenhos, está passando uma temporada no Rio de Janeiro, onde inspirada pelo Carnaval e pelas manifestações anti-corrupção, adotou a máscara ao seu visual. Clarita sempre sabe o que dizer com leveza e suavidade, tem um bom conselho para cada situação, todos gostam muito dela por aqui. Temos agora uma relação de profundo afeto e gratidão: ela, pelo fato de tê-la resgatado daquela caixa e trazido além mar; eu, por ela ter me ensinado que o amor pode sim ser eterno, como eu suspeitava. Sem mais, Clarita Mascarada

Técnica: Impressão Laser Digital  e Carimbo Artesanal

Dimensões: 42 cm x 29,7 cm

Tiragem : Ilimitada 

Cheirinho de Poesia

E porque não unir o útil ao agradável? Foi com o objetivo de trazer um mimo literário para o cotidiano que desenvolvi o projeto das Almofadinhas Poéticas, confeccionadas com papel artesanal feito à mão e recheadas com lavanda natural, altamente cheirosa! Escolhi frases de autores que me inspiram, datilografadas uma a uma e costuradas à mão com muito capricho. Elas podem enfeitar uma mesa ou trazer perfume para a vida, e servem também como uma surpresinha literária que surge no meio de uma gaveta de papéis ou roupas! 

Agulha e Linha

Minhas duas amadas avós eram costureiras: uma de profissão e outra por puro talento. Cresci em meio à agulhas e linhas, tesouras e tecidos. Passei inúmeras férias introduzindo linhas em buracos de agulha minúsculos, pregando botões, alinhavando panos de prato e lencinhos como treinamento e remendando meias como dever de casa. Chuleado, caseado, invisível, zigue-zague. Adotei o dedal como objeto preferido, achava que era feito para crianças. Minha mãe tecia tapetes e colchas incríveis, qualquer folguinha na rotina e ela corria pras agulhas de crochê. Meus tios foram donos de fábricas de roupas e eu simplesmente adorava passear pelo meio das costureiras catando restinhos de tecido pra fazer roupinhas de boneca. Essa convivência despertou em mim uma vontade de criar que nunca foi embora, me deu asas pra voar no mundo da imaginação.

A costura me parecia um mundo de possibilidades, que na infância julgava servir apenas para uma finalidade muito prática: roupas! Quando cresci, pude entender que se tratava mesmo de um universo, mas que ia muito além das roupas: a criatividade, ela sim, é a peça chave da engrenagem das costureiras. Depois, se transformou em terapia, e nos momentos difíceis sempre me pego bordando algum paninho. Ao me lembrar daquelas tardes que passava sentada ao pé da máquina da vó Anna, ou no quarto da vó Cacilda, costurando, ouvindo algumas histórias, contando outras, me sinto mais segura. Foram naqueles momentos quando descobri muito sobre a minha família e com isso pude traçar as primeiras linhas da minha identidade.

Já crescida, agora fotógrafa e historiadora da arte, resgato aquelas tardes no meu coração unindo o passado e o presente. Costurar papéis e fotografias gera em mim não apenas um sentimento de continuidade de uma tradição, mas me faz sentir mais completa e satisfeita como artista. Sem maiores explicações teóricas, simplesmente faz sentido. Sinto muita empatia pelas figuras costuradas, mesmo que desconhecidas, como se houvesse uma capacidade de compreensão emocional e estética mútuas entre os fotografados e eu durante o processo. Costurar é um ato emocional e algo me diz que um tanto místico também.

Os Burocratas

Os Burocratas é uma série de cartazes que fiz pensando na Risograph, uma máquina que opera um processo similar ao stencil, por duplicação. Ela está na mesma família da Serigrafia, mas foi inicialmente concebida para fins de impressão em negócios. A máquina, que se parece com uma fotocopiadora, faz uma impressão offset usando placas ou Masters, imprimindo uma cor / camada de cada vez. Cada camada adicional requer uma passagem adicional do papel através do equipamento. Por isso os cartazes estão divididos em cores tão marcadas. Essas fotos eu ganhei (adoro!) e foram compradas na rua, em Buenos Aires. Por tanto, acho que meus burocratas são porteños!

Cartas Roubadas

Sabe aquela carta do escritor famoso pra amada, que quando você leu queria ter escrito pra alguém? O projeto “Cartas Roubadas” se apropria dessa inspiração “divina” pra trazer pro cotidiano palavras tão bonitas, à serviço dos pobres mortais! Entre os ilustres estão Frida Kahlo para Diego Rivera, Martin Heidegger para Hannah Arendt, Karl Marx para sua amada Jenny Von Westphalen e uma carta de amigas, de Clarice Lispector para Olga Borelli.

Merci au Cirque

Quarta, 23 de fevereiro de 2011 às 13h18

Esta semana descobri a indigna cadeia de apegos na qual se perde nossa vida. Trocamos o essencial pelo suscetível, estamos convencidos de que a felicidade está no mundo exterior. Havia me esquecido do prazer de viajar leve.

Para alçar vôo precisei soltar o peso, tantas coisas desnecessárias que acumulo, a preocupação com a bagagem, as armadilhas mais complexas do mundo material. Comecei a soltar, deixei cair, quebrei paradigmas e crenças internas que me faziam acreditar que para ser feliz há de haver apego, não liberdade.

Encontrei nas pessoas o espírito de solidariedade, nos que seguem seus sonhos e vivem de forma espontânea no aqui e agora. O peregrino sabe decifrar o seu caminho, sonha com seu rumo e não negocia a sua liberdade, não trafica o sagrado, recupera a paisagem interna rompendo a ilusão do apego, desafiando a sua liberdade, desapego e autenticidade.

La Virgule, uma indicação de inversão interna, uma pausa pra respirar em Toulouse… Merci au cirque por me ensinar que a felicidade está aqui.