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O sonho de Leonardo

Leonardo da Vinci, o artista cientista, fez muitas experiências com a anatomia. Ludovico Sforza lhe encomendou uma estátua do falecido Duque de Milão, a cavalo, em tamanho quatro vezes maior que a escala natural. Leonardo, em sua busca pela perfeição, passou anos estudando a anatomia e os movimentos dos cavalos para executar o trabalho. Até que em 1495, todo o bronze reservado para o projeto foi destinado à manufatura de armas usadas na defesa da Itália durante a invasão da França. Curioso notar que Leonardo também foi o inventor das armas mais letais que existiram em seu tempo.

Eadweard Muybridge, sem saber, era o sonho de Leonardo. Em 1878, ele publicou seu trabalho Horse in Motion, o registro de um cavalo a galope, derrubando séculos de erros na representação artística do movimento. Com a invenção de um dos primeiros obturadores de câmera, foi capaz de fotografar as fases sucessivas da ação. Era o tempo exigindo sua parcela de verdade. Hoje em dia, quase nos ofendemos com qualquer inexatidão na representação do movimento.

Em 2008, a televisão estatal iraniana mostrou imagens de mísseis riscando o céu noturno. Eram lançamentos para testar os mísseis de médio e longo alcance. A mídia iraniana informou que as armas foram disparadas de navios no Golfo Pérsico e também do solo. Este episódio não seria possível sem o desenvolvimento das tecnologias tanto de Leonardo, quanto de Muybridge.

Naquela mesma semana, uma agência de notícias francesa publicou que o Irã parecia ter manipulado uma fotografia dos tiros para o ar. A imagem mostra quatro mísseis disparados ao mesmo tempo, com colunas de fumaça por trás deles. O sonho impossível de Leonardo se tornou realidade. O registro automático de um movimento posteriormente manipulado com um “pincel”, para satisfazer o desejo do real de uma situação de guerra.

É a mais pura arte em nome da evolução humana, paradoxalmente satisfazendo o desejo de liquidar a própria anatomia do homem.

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